Sexta feira é noite de choro na Pauliceia Cultural, e desta vez a habilidade de improvisação ante adversidades foi mostrada, sem energia elétrica mas à luz das velas, e com um cabo que vinha da casa do vizinho, o choro começou. O grupo Dois por quatro, formado por Leandro Oliveira (Flauta) Allan Abbadia (Trombone) Wesley Vasconcelos (Violão de 7 Cordas) Deni Domenico (Cavaco) Yves Finzetto (Pandeiro).
A flauta melodiosa e doce era como o passarinho que te acorda de manhã quando se está no meio do campo, o cavaquinho humilde que mesmo acompanhando ou como solista aportava sua melodiosa agudeza e alegre som.
Cada instrumento teve seu momento de brilho, dançando, marcando a marcha e inundando com sua cascavel aparecia o pandeiro, o trombone com seu oportuno e original aporte dava um toque Anos 20, o que parecia estranho no choro mas combinava tão bem com o risco e peculiaridade desde grupo. E o violão de 7 cordas parecia ser o senhor que dava a seriedade e sobriedade ao conjunto. A escuridão ajudou a afinar os sentidos, porque não dava para ver muito, mas a acústica envolvia o lugar, não eram necessários os olhos.
Grupo Dois por Quatro |
Entre choros e sambas se passou a noite, entre algumas das músicas executadas estavam: Cochichando, do mestre Pixinguinha, Bem Brasil, Doce de Coco do Jacob do bandolim, Língua/Maxixes, Notícias, Alvorada, Folha Secas, Primeiro Amor, Novato, Ao mestre, e Deixa o breque.
Ás vezes o choro é como um abraço apertado e cálido, outras vezes é uma brisa de mar que refresca, é desses ritmos que tem o poder de te levar numa outra época no tempo, às vezes é como o ninar ou arrulho de um bebê no escuro e íntimo do lugar. Com Gafieira, dança de Astor Silva, o choro deixou de ser triste e virou rítmico e a vontade de ter um par para dançar apareceu. O choro é uma música aconchegante, eram idas e vindas entre a tristeza, nostalgia e a alegria como a própria vida é.
Quando o samba, sem pedir licença, entrou, foi com um toque romântico, como aquela mão que com carinho passa no cabelo ou como o balanço dentro dos braços do amado e temido mar. A surpresa da noite, foi quando a voz e o violão carregado de vida e experiência do cantor João Macacão chegou com as músicas Pistão de gafieira, Chuvas de Verão, e até um samba canção.
O grupo Dois por Quatro, como a anfitriã da Pauliceia falou, navega e traz o choro clássico renovando-o trazendo muita novidade, teve até frevo carioca. Não podia falta o som carnavalesco da marchinha que foi como aquele spring que se dá no final da corrida, e com a música Armonia Selvagem um choro muito difícil para o flautista, fez a mistura entre sons que de olhos fechados era como o vento no meio da floresta misturado com sons de animais.
O final com Luana como petição do João, Receita de Samba onde o Trombone se fez dono do show, e Estamos aí, e nesse ambiente ainda a escuras e de intimidade, a gente parecia estar no quintal da casa dos amigos, entre salgados e bebidas e a boa atenção da Pauliceia Cultural, espaço muito querido pelos paulistanos que gostam da boa música e por nós, que mesmo vindos de longe também somos amantes de uma arte feita com a alma.